Qual é a mulher que, ao menos uma vez na vida, não desejou poder deixar de menstruar? A ideia de poder se manter fértil, saudável e nunca mais ter de passar pelos desconfortos mensais da menstruação é algo bastante tentador para a maioria das mulheres. Porém, a segurança da supressão da menstruação sempre foi um fator que impediu a concretização desse desejo.
Neste artigo vamos discutir, à luz do atual conhecimento científico, quais são as vantagens e os perigos da supressão do período menstrual.
Parar de menstruar é possível?
Desde a popularização das pílulas anticoncepcionais, décadas atrás, que os médicos se debatem sobre os benefícios e malefícios da supressão da menstruação.
Nos primeiros anos dos anticoncepcionais orais, quando as doses de hormônios presentes na pílula eram muito elevadas e os efeitos colaterais frequentes, era possível, porém imprudente, pensar no uso contínuo dos mesmos para suprimir a menstruação de forma prolongada.
Conforme os anos foram passando e a medicina foi ganhando maior experiência e conhecimento acerca do funcionamento do ciclo menstrual, as doses de estrogênio e progesterona presentes na pílula foram sendo progressivamente reduzidas. A supressão da menstruação deixou de ser uma possibilidade teórica e passou a ser indicada em casos selecionados.
– EFEITOS COLATERAIS DOS ANTICONCEPCIONAIS
Nas últimas décadas, os efeitos colaterais dos contraceptivos orais tornaram-se bem menos comuns e graves, fazendo surgir as primeiras vozes a favor da popularização da eliminação da menstruação. A supressão do período menstrual não seria uma opção apenas para situações médicas específicas, mas sim para toda e qualquer mulher que desejasse parar de menstruar.
Entretanto, o debate só pegou fogo mesmo na década de 1990, quando surgiram comercialmente as primeiras pílulas de uso prolongado, desenhadas com objetivo de permitir que a mulher menstrue apenas 4 vezes por ano.
De lá para cá, as opções para supressão do período menstrual só têm vindo a aumentar, e é cada vez maior o número de mulheres que optam por parar de menstruar ou, pelo menos, menstruar poucas vezes por ano.
Menstruar é necessário?
A grande questão quanto à supressão do período menstrual sempre foi: menstruar é um evento necessário na vida mulher? Em outras palavras, a menstruação é uma função fisiológica que traz algum benefício às mulheres?
Aparentemente, a resposta para as duas perguntas é não. Aqui esbarramos em uma questão um pouco filosófica, mas a verdade é que nem todas as funções ou eventos que ocorrem de forma natural no nosso organismo são necessárias ou boas. Por exemplo, envelhecer é bom? A calvície que ocorre com o passar dos anos é boa ou necessária? E os pelos que surgem em diversas áreas do nosso corpo, como dentro das orelhas, axilas, nas costas ou mesmo a barba, têm algum papel imprescindível na nossa vida? A menstruação parece se encaixar nesse grupo. Ela é apenas um sinal de que a mulher ovulou e não foi fecundada.
O fato é que as mulheres modernas menstruam muito mais do que suas avós, bisavós e tataravós. A mulher moderna tem a primeira menstruação antes e entra na menopausa mais tarde. Além disso, ela tem menos filhos e amamenta por muito menos tempo. Olhando por esse prisma, e pensando do ponto de vista evolutivo, quem tinha a vida reprodutiva mais “natural”, as mulheres atuais ou suas bisavós?
Portanto, a maioria da classe médica, atualmente, considera a menstruação um evento não essencial à vida da mulher. Na verdade, como veremos a seguir, em algumas pacientes, a supressão da menstruação melhora não só a saúde, mas também a qualidade de vida dessas mulheres.
Não menstruar faz mal?
Partindo do princípio de que a menstruação não é um evento fisiológico imprescindível às mulheres, a conclusão lógica é de que a supressão da menstruação não é uma conduta que provoque danos a sua saúde.
Na verdade, com o conhecimento científico adquirido até o momento, tem se tornado cada vez mais claro que menstruar “demais” ao longo da vida faz muito mais mal do que menstruar “de menos”. A exposição crônica do organismo a variações hormonais do ciclo menstrual, nomeadamente do estrogênio, está relacionada ao aumento da incidência de diversas doenças, entre as mais relevantes podemos citar:
– Endometriose (leia: ENDOMETRIOSE | Sintomas e tratamento)
– Câncer de ovário.
– Câncer de endométrio (câncer do útero).
Obviamente, os efeitos a longo prazo da supressão da menstruação só serão realmente esclarecidos com o passar dos anos, após várias mulheres terem sido submetida a esse tipo de tratamento por pelo menos 1 ou 2 décadas. Sabemos que menstruar não é necessário, porém, não sabemos se a forma mais adequada de suprimir a menstruação é através do uso contínuo de hormônios. Críticos da supressão da menstruação argumentam que, ao se colocar na balança, os benefícios da supressão da menstruação podem não ser assim tão melhores que os riscos causados pelo uso ininterrupto de hormônios.
Contraindicações à supressão da menstruação
A interrupção da menstruação é feita com a administração contínua de anticoncepcionais hormonais. Portanto, se uma mulher apresenta contra-indicações à pílula, é prudente que ela não faça uso contínuo da mesma.
A supressão do período menstrual deve ser avaliada de forma criteriosa em mulheres obesas, fumantes, hipertensas com mau controle da pressão arterial, diabéticas, com história familiar de câncer de mama ou risco elevado de tromboses.
Indicações e benefícios da eliminação da menstruação
Já há alguns anos a supressão da menstruação vem sendo usada como opção de tratamento para alguns distúrbios relacionados direta e indiretamente ao ciclo menstrual, tais como:
– Dismenorreia (cólicas menstruais) (leia: CÓLICA MENSTRUAL | Sintomas e tratamento).
– TPM (tensão pré-menstrual) e TDPM (transtorno disfórico pré-menstrual) (leia: TENSÃO PRÉ-MENSTRUAL).
– Supressão da menstruação em pacientes com anemia.
– Tratamento e prevenção de sangramentos relacionados a miomas uterinos (leia: MIOMA UTERINO).
– Tratamento e prevenção da menorragia (hemorragia uterina).
– Tratamento da enxaqueca menstrual.
– Tratamento dos sintomas relacionados à chegada da menopausa (SINTOMAS DA MENOPAUSA).
– Hiperandrogenismo (excesso de hormônio masculino nas mulheres).
Para as mulheres com os problemas acima, a supressão da menstruação não é uma simples questão de conveniência, é uma questão de saúde física e mental.
A interrupção da menstruação também é uma medida sensata em mulheres com paralisia cerebral ou que tenham problemas musculares ou neurológicos que a impeçam de praticar a adequada higiene pessoal na época do período. Se a troca frequente do absorvente já é um transtorno para quem é saudável, imagina para pessoas com incapacidades.
Parar de menstruar apenas por uma questão de conveniência
Se a menstruação não é um evento necessário, é mais do que justo que muitas mulheres resolvam que não querem mais passar pelo incômodo de ficarem menstruadas todo mês. Mesmo nas mulheres que não sofrem cólicas intensas ou tenham TPM, a menstruação é um evento inoportuno, principalmente em épocas de férias, viagens, competição, exames acadêmicos, eventos especiais, etc.
Durante a adolescência, época em que as cólicas e a imprevisibilidade da menstruação são maiores, a supressão do período pode ser uma opção muito confortável, principalmente porque durante o período de aulas, a troca de roupa e do absorvente íntimo não é algo simples de ser feito.
Outro ponto em favor da interrupção da menstruação é a questão financeira. O gasto mensal com os anticoncepcionais orais é maior do que com injeções, impantes ou adesivos, por exemplo. Além disso, a mulher não precisa comprar absorventes, analgésicos contra cólicas, ferro contra anemia e testes de gravidez de farmácia quando a menstruação não desce na época esperada. O número de faltas ao trabalho e às aulas também é muito menor nas mulheres que não menstruam.
Faz-se necessário salientar que a supressão da menstruação não interfere na fertilidade da mulher. Mesmo estando há anos sem menstruar, a simples suspensão da medicação faz com que a mulher volte a ovular normalmente.
Métodos disponíveis para não menstruar
1- Pílula anticoncepcional
Na maioria dos casos, a pílula anticoncepcional é tomada por 21 dias, seguida de 7 dias de pausa para a descida da menstruação. Se a mulher optar por não menstruar, ela omite esses dias de pausa e continua a tomar a pílula de forma contínua. Enquanto não houver uma pausa na pílula, a menstruação não descerá.
A forma mais comum é o uso de 84 dias seguidos de pílula com 7 dias de folga. Desta forma, a mulher só menstrua 4 vezes por ano.
A interrupção da menstruação pode ser feita com as pílulas comuns ou com novas formulações desenhadas para este fim. A decisão da melhor opção para o seu caso deve ser feita sempre pelo seu ginecologista.
Algumas opções criadas especificamente para o uso ininterrupto incluem: Cerazette (desogestrel 75 mcg), Kelly (desogestrel 75 mcg), Elani 28 (etinilestradiol 30 mcg + drospirenona 3 mg), Micronor (noretisterona 0,35 mg) e Mercilon (etinilestradiol 20 mcg + desogestrel 150 mcg).
2- Anticoncepcional injetável
Nesta forma o anticoncepcional é injetado na região glútea, geralmente com intervalos de 1 ou 3 meses. É uma boa opção para suprimir a menstruação.
Opções disponíveis no mercado incluem: Cyclofemina (acetato de medroxiprogesterona 25 mg + cipionato de estradiol 5 mg), Mesigyna (valerato de estradiol 5 mg + enantato de noretisterona 50 mg) e Perlutan (enantato de estradiol 10 mg + acetofenido de algestona 150 mg).
3- Dispositivo intra-uterino (DIU)
O DIU hormonal libera quantidades pequenas e constantes de hormônio e pode ser mantido dentro do útero por até 5 anos. A forma comercial mais usada é o Mirena (levonorgestrel 52 mg). O DIU hormonal só suprime a menstruação em 20% das pacientes, mas é capaz de reduzir bastante o volume e a frequência menstrual nas restantes.
4- Implantes subdérmicos
O implante anticoncepcional (Implanon) é uma pequena cápsula que contém o hormônio etonogestrel. Ele é introduzido embaixo da pele por meio de um aplicador descartável e pode ser mantido por até 3 anos. Após este prazo, ele é retirado através de uma pequena incisão sob anestesia local.
Sua eficácia como supressor da menstruação não é tão boa como as dos outros métodos e ainda pode causar frequentes sangramentos de escape.
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